Maite Perroni fala sobre carreira e maternidade (Hoxa Magazine)

Ao longo de mais de duas décadas, Maite Perroni construiu uma carreira marcada pela reinvenção, escolhas corajosas e uma profunda conexão com sua essência. De ídolo adolescente a protagonista de narrativas complexas, ela trilhou um caminho que transcende os holofotes, consolidando-se como uma contadora de histórias, não apenas pelos papéis que interpreta, mas também pelas mensagens que escolhe transmitir.

Maite é uma força cultural, uma linguagem viva que transcende fronteiras e fala, com rara verdade, sobre identidade, pertencimento e mudança. Ela se move com a dignidade de quem não pede um lugar, mas o reivindica e o constrói.

Para ela, a arte sempre foi um ato silencioso de resistência e uma oferta de empatia. Ela compreende o delicado poder da representação como simplesmente defender sua verdade pode dar voz àqueles que há muito não são ouvidos. Mas ela carrega essa responsabilidade não como um fardo, mas como um privilégio, incorporando-a às suas performances com a mesma graça que definiu sua evolução.

Ao compartilhar suas perspectivas sobre arte, representação e afeto, ela nos convida a olhar para o futuro com a mesma sensibilidade que ela traz para o passado: como alguém que
entende que contar a própria história também significa dar sentido às histórias de muitas outras pessoas.

Se você pudesse costurar sua história com um fio invisível, quais momentos você acredita que definem sua essência como artista e como mulher ao longo desses mais de 20 anos de carreira?

Maite Perroni: Há tantos momentos que vivem silenciosamente dentro de mim, mas alguns realmente moldaram a essência de quem eu sou. Meu tempo em Rebelde foi um começo poderoso  me deu visibilidade, mas também me ensinou a responsabilidade que vem com ter uma voz. A transição para papéis de atuação mais complexos me desafiou a crescer, a ser corajosa e a explorar partes de mim mesma que eu ainda não havia descoberto. Me tornar mãe redefiniu tudo. Isso me deu estabilidade e me lembrou do que realmente importa. E ao longo dessas duas décadas, o que permaneceu constante foi meu amor por contar histórias por me conectar com as pessoas de uma forma que pareça honesta e humana. Cada fase, mesmo as mais silenciosas, adicionou uma camada à minha identidade não apenas como artista, mas
“Me tornar MÃE redefiniu tudo” como uma mulher que continua evoluindo com intenção e coração.

Em que momento você percebeu que não era mais apenas uma intérprete de personagens, mas uma contadora de histórias com identidade própria?

MP: Foi um despertar gradual. Por muitos anos, me concentrei em fazer o melhor que podia com os papéis que me eram atribuídos, trazendo emoção, disciplina e presença a cada um. Mas chegou um momento em que comecei a me fazer perguntas mais profundas: Por que essa história? O que eu quero dizer com ela? O que eu defendo como mulher e como artista? Essa mudança aconteceu quando parei de tentar me encaixar em expectativas e comecei a escolher projetos que se alinhavam com meus valores e minha voz. Entendi que contar histórias não é apenas atuar, é sobre perspectiva, responsabilidade e conexão. Foi aí que encontrei a liberdade. E a partir daí, me sinto muito mais realizada, muito mais honesta em tudo o que faço.

Na sua opinião, qual é a maior responsabilidade de uma atriz em tempos em que a arte também é uma ferramenta de transformação social?

MP: Acredito que nossa maior responsabilidade é ser intencional. Como atores, não estamos apenas incorporando histórias, estamos moldando conversas, desafiando percepções e, às vezes, oferecendo voz àqueles que não foram ouvidos. A arte tem o poder de curar, questionar e inspirar. No mundo de hoje, onde tantas realidades coexistem, escolher quais histórias contamos e como as contamos é profundamente importante. Isso significa abordar cada papel com consciência, empatia e verdade. Para mim, não se trata de pregar, mas de estar presente e honesta o suficiente no meu trabalho para que alguém que assista possa se sentir visto, possa refletir ou até mesmo sonhar um pouco mais alto.

Existe uma responsabilidade silenciosa em ser um símbolo de representação? Como você equilibra esse poder com sua individualidade?

MP: Sim, com certeza. Existe uma responsabilidade silenciosa que vem com ser vista, não apenas como atriz, mas como representante de algo maior do que você mesma. Sei que, para muitas pessoas, especialmente mulheres jovens, ver alguém que compartilha sua língua, suas raízes ou sua jornada significa uma possibilidade. E isso é algo que carrego com profundo respeito. Mas, ao mesmo tempo, tento não deixar que esse peso se transforme em pressão. Lembro a mim mesma que ser fiel a quem eu sou é um ato de representação. Não preciso ser perfeita, só preciso ser honesta. E, a partir desse espaço, acredito que podemos inspirar outras pessoas não sendo um ideal, mas sendo reais.

Qual é o limite entre a vulnerabilidade artística e a exposição emocional, e como você aprendeu a reconhecê-lo?

MP: Essa linha é delicada e profundamente pessoal. A vulnerabilidade artística é uma escolha. É a coragem de se abrir a serviço de uma história, de habitar as emoções com sinceridade sem perder o centro. A exposição emocional, por outro lado, pode acontecer quando essa linha se confunde e você se entrega demais sem proteção. Aprendi a reconhecê-la por meio da experiência. Houve momentos no início da minha carreira em que eu ainda não sabia como separar minha própria dor da de um personagem, e isso me deixou esgotada. Com o tempo, entendi a importância dos limites, da preparação e da recuperação. Ser vulnerável como artista não significa sacrificar seu bem-estar emocional , significa honrar a história e, ao mesmo tempo, honrar a si mesma.

Sua próxima estreia em Hollywood será no musical No Te Olvides, que aborda ancestralidade, raízes e pertencimento. Foi uma coincidência ou um chamado inevitável para contar sua própria história por meio da arte?

MP: Pareceu mais do que uma coincidência, pareceu um chamado. Quando li o roteiro pela primeira vez, vi reflexos da minha própria jornada, da minha herança, das mulheres que me moldaram e das questões que carreguei em silêncio por anos. No Te Olvides não é apenas um filme, é uma homenagem às nossas origens e aos caminhos que escolhemos para curar, crescer e nos reconectar. Dizer sim a este projeto não foi apenas uma decisão profissional, foi profundamente pessoal. Como artistas, muitas vezes esperamos pelo momento em que a história nos escolhe. Este foi um desses momentos. E me sinto honrada em dar vida a uma personagem que fala do coração de tantas pessoas.

Falando em música, o breve retorno do RBD em 2023 foi um fenômeno global. Em que momento da turnê vocês perceberam a profundidade da cicatriz emocional que a banda deixou nas pessoas?

MP: Me atingiu logo na primeira noite da turnê. Quando as luzes se apagaram e ouvi milhares de vozes cantando em uníssono, alguns chorando, outras sorrindo, outras guardando memórias. Percebi que fazíamos parte de algo muito maior do que nós mesmos. O RBD não era apenas uma banda. Tornou-se um símbolo de pertencimento, identidade e memória emocional para uma geração inteira. E testemunhar essa conexão ainda viva, mais forte do que nunca, foi profundamente comovente. Cada show parecia um reencontro não apenas com os fãs, mas com momentos que moldaram a vida das pessoas. Isso me lembrou que a música e o amor não desaparecem. Eles apenas esperam o momento certo para retornar.

Quando, durante a turnê, surgiu a ideia de transformar essa experiência em um livro? Foi uma decisão espontânea ou algo que vocês planejavam desde o início?

MP: A ideia para Mi Viaje como Rebelde estava lá desde o início da turnê. Senti que o que estávamos prestes a vivenciar merecia ser documentado de uma forma íntima, honesta e profundamente pessoal. Por isso, convidei sete fotógrafos que fizeram parte de diferentes etapas da minha jornada artística para capturar momentos únicos e irrepetíveis a partir de suas próprias perspectivas, com sensibilidade e verdade. No início, eu não sabia exatamente que formato isso tomaria, mas sabia que queria preservar cada emoção, cada instante, de forma significativa. Com o passar dos dias, ficou claro que aquilo era mais do que um registro visual, era uma história emocionante, uma homenagem a tudo o que vivemos e uma forma de agradecer ao público por tantos anos de amor e conexão. O livro não reflete apenas o que aconteceu no palco, ele revela tudo o que estava acontecendo dentro de mim. É uma carta aberta ao passado, contada com gratidão e de um presente repleto de consciência.

O que a Maite de 2023 aprendeu sobre o palco que a Maite de 2004 ainda não sabia e como isso se reflete no seu livro “Mi Viaje Como Rebelde”?

MP: A Maite de 2004 subiu ao palco com entusiasmo, admiração e inexperiência, sem entender completamente o que significava viver algo daquela magnitude. Tudo estava acontecendo tão rápido que não havia muito tempo para realmente processar. A Maite de 2023 retornou ao mesmo palco com consciência, com uma compreensão muito mais profunda do que significa estar presente, conectar-se e respirar cada segundo do momento. Aprendi a apreciar o silêncio entre as músicas, a energia da plateia e a jornada pessoal por trás de cada apresentação. Essa transformação é o que moldou Mi Viaje Como Rebelde. Não é apenas uma retrospectiva, é uma reflexão sobre como vejo o palco hoje: não como um lugar para provar nada, mas como um espaço para compartilhar, sentir e ser grato.

Sua filha Lía entrou na sua vida em um momento significativo. A maternidade trouxe novas perspectivas para sua carreira? Como você acredita que ela influenciou a maneira como você faz escolhas?

MP: Com certeza. Me tonar mãe da Lía mudou tudo. Ela trouxe luz, clareza e uma sensação de equilíbrio que eu nem sabia que estava faltando. Minhas prioridades mudaram, não apenas em termos de tempo ou energia, mas na maneira como vejo meu propósito como mulher e como artista. Agora, cada decisão que tomo é mais intencional. Escolho projetos que se alinham com meus valores, com histórias em que realmente acredito e com o tipo de exemplo que quero dar a ela. Ela me lembra todos os dias de estar presente, de manter os pés no chão e de proteger o que realmente importa. A maternidade não me distanciou da minha carreira. deu a ela um significado mais profundo.

A maternidade lhe deu uma nova compreensão do que significa ser forte e vulnerável ao mesmo tempo?

MP: Com certeza. A maternidade me mostrou que a verdadeira força não vem de fazer tudo perfeitamente, mas sim de se permitir sentir profundamente, de pedir ajuda quando necessário e de se mostrar com amor mesmo quando se está cansado ou inseguro. É uma dança constante entre segurar e deixar ir, entre proteger e confiar. E nesse equilíbrio, descobri uma força mais suave, enraizada na presença, na paciência e num coração aberto. Ser mãe me ensinou que vulnerabilidade não é uma fraqueza, é onde o amor se fortalece.

Qual palavra você acha que define o amor depois da maternidade, do casamento e da fama?

MP: Verdade. Porque, com o tempo, o amor se desfaz de suas camadas de ilusão. Deixa de ser sobre perfeição ou fantasia e se torna algo mais real, mais humano. Depois da maternidade, do casamento e de anos navegando pela vida pública, aprendi que o amor enraizado na verdade é o tipo mais poderoso. Não se trata de sempre ter as respostas, mas de ser honesto, vulnerável e presente, mesmo quando é difícil. A verdade é onde o amor se torna duradouro. É onde a necessidade de impressionar para de se conectar começa.

O FUTURO DE MAITE NÃO É SOBRE MAIS – É SOBRE SIGNIFICADO.

Finalmente, olhar para sua jornada é testemunhar o reflexo de uma artista em constante reinvenção. Mas quando você olha para o futuro, como gostaria de se ver daqui a alguns anos?

MP: Espero me ver ainda mais conectada com meu propósito, com minha criatividade e com as pessoas que amo. Não aspiro estar em todos os lugares, mas sim estar totalmente presente onde quer que eu esteja. Em alguns anos, adoraria olhar para trás e me sentir orgulhosa não apenas do que fiz, mas de como fiz com integridade, paixão e equilíbrio. Quero continuar contando histórias que me emocionem, correr riscos que me desafiem e viver uma vida que seja fiel a quem eu sou. E, acima de tudo, quero continuar evoluindo com calma, coragem e gratidão.

SCANS Hoxa Magazine e Photoshoot Hoxa Magazine 

Créditos: Site MaiPerroni e Google Translate (Tradução e Adaptação) e Hoxa Magazine (Entrevista)